Deixa eu te contar uma coisa. A folha em branco, qualquer folha em branco, me assombra. Na verdade não apenas me assombra, mas me frustra constantemente. Toda vez que preciso encarar uma, é como se ela gritasse que sou uma incompetente, que o que eu escolhi fazer da vida, que é criar, não passa de um delírio e que talvez eu devesse me voltar à outro tipo de trabalho que não dependa da minha habilidade de imaginar e de traduzir minhas ideias em algo um pouco mais concreto. Por aí também é assim?
Ok, não vou mentir e dizer que esse martírio é vivido toda santa vez que quero criar algo, mas acontece e não é raro. Eventualmente, mas não sem esforço e uma dose ou três de insegurança e autocrítica, eu acabo ultrapassando essa barreira e esboçando alguma coisa na folha. Às vezes a tentativa resulta em algo que acho bacana, às vezes não. Tudo bem, faz parte!
Pensando agora, enquanto escrevo, acho que na maioria das vezes que esse bloqueio dá as caras é quando estou criando algo pra mim, trabalhando em algum projeto pessoal. O que levanta algumas questões pra refletir: Será que é porque me cobro demais? Será que estou focada demais no resultado final e inconscientemente ignorando o valor do processo?
Sabe, tem alguns anos que trabalho com criatividade e o pouco de experiência que ganhei ao longo desse período me mostrou, entre outras coisas, que nós criativos sofremos de males muito parecidos. Perfeccionistas, meticulosos, um pouco caóticos, um pouco inseguros. Uns mais, outros menos, mas tá soando algum alarme por aí?
Pode soar meio poético demais e talvez nem todos concordem – e está tudo bem, porque honestamente não creio que exista certo e errado nessa questão – mas o resultado do processo criativo, do nosso trabalho, carrega um pedacinho nosso contido nele. É através de muito esforço, estudo e dedicação que damos vida às nossas ideias, por isso não é à toa que sejamos assim tão apegados. Mas entre o criar loucamente sem qualquer tipo de autocrítica, em busca de evolução e aprendizado, e o estar tão preocupado com a perfeição e o julgamento que a folha segue eternamente em branco, há um caminho do meio, um equilíbrio a ser encontrado.
E daí você me fala: “ok, entendi, mas como faço pra chegar nesse caminho do meio?”, e eu te respondo: “não faço a menor ideia!”. Já viu aqueles xaropes que “curam” tudo, de resfriado à dor no dedinho do pé? Então, assim como esses xaropes não curam tudo o que prometem (desculpe jogar essa bomba assim), não existe fórmula mágica nem um tutorial de sei lá quantos passos para ser um artista mais equilibrado. O que existe é processo, é tempo, é experimentação, é tentativa e erro, é estudo, é dedicação, é paciência, é auto cuidado e auto conhecimento. Somos diversos, uns gostam de trabalhar sob pressão e outros não, uns planejam cada mínimo detalhe, outros preferem um fluxo mais natural, e se somos diversos, a solução também será.
E no final do dia o que importa não é o que está traçado na folha, se foi a ideia da minha vida ou uns rabiscos indecifráveis, o que importa de fato é que neste dia a batalha termina e saio dela vitoriosa. Pronta – ou nem tanto – pra repetir tudo amanhã.
Esse blog é uma folha em branco que estou encarando há muito tempo. Me questionei sobre se valia a pena manter um blog numa era em que reinam os vídeos, me questionei se há algo de interessante que eu possa compartilhar por aqui e que talvez ajude alguém mais, além de mim mesma – já que escrever tem sido uma maneira de entender minhas próprias questões nos últimos anos. A vontade acabou por ser maior do que as dúvidas e decidi ao menos tentar. Não tenho a pretensão de trazer respostas e soluções incríveis, meu maior objetivo aqui é compartilhar a jornada e iniciar conversas, importantes ou triviais, sobre processos criativos e sobre trabalhar com arte e design.
Então, por favor, sintam-se em casa e bora conversar sobre essa doidera da folha em branco nos comentários! 😉